O hetero masculinidade frágil

Thiago Alegreti
6 min readApr 11, 2021

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Esta semana estava na academia e, para minha surpresa, havia dois homens hetero conversando, estilo “sou o top do rolê”, modelo padrão de prateleira de loja de conveniência de posto de gasolina de rodovia- malvestidos, mal afeiçoados, mal articulados e que juram “pegar várias gatas”.

Um deles, aparentemente advogado, meritocrata convicto, que tem um escritório herdado dos pais, mencionava que mandaria uma outra advogada de seu escritório embora, por ela “ser feia” e “não ser gostosa”. Vale ressaltar que ambos têm beleza negativa, daquelas em que, quando a pessoa nasce, já vem para a terra sabendo que precisa ser legal, porque vai dever até a “boa aparência” durante a vida.

A conversa entre ambos se estende. O primeiro diz: “Entrevistei duas pessoas. Uma fez PUC, foi excelente na entrevista e a outra fez USP. Mas você sabe, não posso contratar a da PUC, o pessoal lá geralmente é de esquerda.”

Eis que então, um deles, de maneira extremamente aleatória, me pergunta: “E você, o que acha que a gente faz, quando a mulher não é bonita, não é gostosa e é de esquerda?” Ao que respondi: “A respeita e se a relação é profissional, a trate como tal!”. Não gostando muito da minha resposta, perguntaram com o que trabalho. Apenas disse que, nas horas vagas gosto de expor abusos cometidos contra minorias, principalmente contra mulheres. Daí em diante, mudos ficaram e mudos se foram da academia. Esta cena me causou estranheza e me fez refletir, principalmente pela “normalidade” e objetificação com que falavam.

Infelizmente, não é difícil encontrar este tipo de comportamento. Quanto mais velho, hétero e branco, maiores são as chances de que você se esbarre com eles. E não é difícil notá-los. Eles são aqueles que, em uma mesa de bar, se gabam por serem os “pegadores”, os que são contra o politicamente correto, aos berros, dizem que tudo é “mimimi” e não conseguem entender como é que estão perdendo o autoproclamado direito em oprimir as minorias.

Detalhe: eles também estão inclusos nos grupos em que, se autointitulam cidadãos de bem, fortes soldados do combate a corrupção, bravejam que bandido bom, é o bandido morto e em contraponto, são os primeiros a sonegar impostos, não pagar dívidas trabalhistas e em muitos casos, descumprem leis, principalmente as relacionadas ao bem-estar e trabalho da meia dúzia de funcionários que possuem. Outro detalhe que vale ressaltar: eles têm apego a armas. Sim. Defendem que todo cidadão tenha o direito de se defender, andar armado, como se o fato de possuir uma .38 na cintura fosse capaz de suprir a má formação do fálico que possuem. Acham que a mulher é uma propriedade, que deve estar sempre disponível para que, consiga realizar seu malabarismo sexual que geralmente dura apenas alguns segundos. E sem a menor preocupação em satisfazer a parceira.

Têm obsessão pelo modelo de família tradicional, considerando apenas as relações heterossexuais como passíveis de concretizar família, e quando se casam, relacionamentos extraconjugais passam a fazer parte de seu cotidiano.

Amam e fazem questão de ostentar sua burrice, seu preconceito e que, apenas a verdade deles vale, por ser absoluta.

Há 5 anos, essa amostra cômica e hipócrita da população andava sumida, desarticulada, com sensação de abandono, possessos em observar a evolução da sociedade: a mulher passar a ter mais conhecimento e evitar relações abusivas, o gay poder casar e não se calar ao ser oprimido, as ações afirmativas de combate ao racismo. Porém o advento de uma nova Idade das Trevas, marcados por Donald Trump, Bolsonaro e mais alguns, acabou os trazendo diretamente das cavernas ao “mainstream”, forçando um engajamento entre seres de capital intelectual duvidoso.

Para eles, qualquer modificação social, ferirá diretamente seu “direito natural”. Vivem como se a sociedade tivesse uma eterna dívida para com eles, por terem nascido homens.

Embora a amostra populacional deste artigo seja de fácil identificação, trago alguns costumes deste nicho, para te desesperar/alegrar neste dia. E assim, “Migx, sua louca”, a única saída para esse tipo de boy é: evitar/fugir.

1 — Eles têm problemas com a higiene básica. Quando usam desodorante, sempre optarão por aquele que indique que eles têm testosterona. Fragrâncias como Lenhador, Pegador, Cabra Macho ou então “com esse as mulheres avançam” são sempre seus queridinhos.

2 — As marcas para este público, precisam sempre ter linguagem simples e o apelo deve ser no quão mais viril eles se tornarão, ao se associarem a determinado produto. A combinação MEN + GÍRIA + COR AZUL/PRETA, são perfeitas para eles.

3 — Eles têm a necessidade alarmante dizer para o mundo que são a nata do criacionismo. O alecrim dourado da evolução: a combinação dos cromossomos XY.

No adesivo: “Sem airbags. Nós morreremos como homens de verdade”

4 — Têm dificuldade em receber afeto de outros homens. Qualquer ato que os façam lembrar o feminino é “desmoralizador”. Por isso, boa parte é extrema e assumidamente homofóbica e a outra parte é aquela que diz: “não tenho nada contra gays, tenho até amigos que são. MAS…”

5 — Eles não cozinham, até porque isso não é coisa para macho. Eles batem um rango. E nada de prato com nome sofisticado, eles fazem um churras, com uma breja, diz que vão chamar umas “mina”, bater um fute.

6 — O momento mais difícil da vida de um hetero masculinidade frágil, é a passagem de seus 23 para os 24 anos. E não, não é porque resolvem refletir sobre as coisas que conquistaram, o bem que fazem pelo mundo. É porque o 24, no jogo do bicho, representa o animal veado. Então, tenham atenção aos detalhes caso queiram fazer qualquer coisa neste dia. E lembrem-se: eles estão indispostos, inseguros. Até porque, a qualquer momento, acreditam que possam perder a sua heterossexualidade.

7 — Os que andam de transporte público, precisam demonstrar que possuem pênis, para que ninguém tenha dúvida. Por isso, vivem como se tivessem com o saco inchado, sentando-se de pernas arreganhadas, ocupado 3 bancos e uma parte do vagão. E ai de quem se sentar ao seu lado e ousar criticá-lo.

8 — Eles fazem o linguajar deles, eles. Isso mesmo, o sujeito não possui nome próprio. Quando vão se apresentar, é necessário seguir sempre a fórmula: palavrão + é meu amigo + alguma qualidade que o sujeito tenha + complemento frasal com o termo top.

Ex: “Esse arrombado, f#*l$@ da p&%a aqui é meu amigo. O cara cozinha bem, top demais.”

9 — Crime capital, para eles, é ter qualquer atitude que os faça parecer menos homem do que se esforçam para ser. Por isso, jamais dirão que um de seus parças é bonito. No máximo: “Pôh, o cara é presença”.

Ah, alguns deles também não lavam/limpam a bunda, porque acreditam que pode fazer com que deixem de ser héteros.

10 — Quando querem pagar de descolados, dizem sempre o texto para o amigo gay da irmã: “parceiro, tudo bem você ser gay. Só não dá em cima de mim.”

11 — Para finalizar, por serem a obra-prima da criação dos deuses mitológicos, eles ditam moda. Andam de pick-up na cidade, mesmo que não trabalhem com carreto ou tenham necessidade de carregar algo na parte traseira do veículo. São mestres na direção. Por serem desbravadores natos, não usam GPS, não pedem informação e chegam ao local pretendido, mesmo que com um leve atraso de dois dias. Toda essa habilidade grega herdada só não os permite achar uma coisa: o clítoris.

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